sexta-feira, 29 de abril de 2011

POESIA PARA CRIANÇAS

O CACHO

Tenho um brinquedo
Que causa arrepios
Que corre, que late,
E que dá rodopios :
- É meu cachorrinho
de estimação.
- Seu nome é Cacho,
meu vira-lata fofão.

(do livro Na Ponta Da Pena)



O COELHO

O coelho que mora
No meu jardim
É o mesmo coelho
Que sorri prá mim

De olho vermelho
E rabo branquinho
Que salta com jeito
E se olha no espelho


O GATO

O gato Miguelim,
De rabo malhado
E bigode de espeto,
Só sabe o miado
do meio pro fim.

De tanto barulho
Que faz este gato,
Miando esquisito
No meio do mato,
A gente só ouve
O firinfinfin...


O Gato
Com um lindo salto Lesto e seguro
O gato passa Do chão ao muro
Logo mudando De opinião
Passa de novo Do muro ao chão
E pega corre Bem de mansinho
Atrás de um pobre De um passarinho
Súbito pára Como assombrado
Depois dispara
Pula de lado
E quando tudo
Se lhe fatiga
Toma o seu banho
Passando a língua
Pela barriga.

Vinícius De Moraes



O Pingüim
Bom-dia, Pingüim
Onde vai assim, Com ar apressado?
Eu não sou malvado
Não fique assustado, Com medo de mim.
Eu só gostaria
De dar um tapinha
No seu chapéu de jaca
Ou bem de levinho
Puxar o rabinho
Da sua casaca.

Vinícius De Moraes
******************



A Cachorrinha

Mas que amor de cachorrinha!
Mas que amor de cachorrinha!
Pode haver coisa no mundo
Mais branca, mais bonitinha
Do que a tua barriguinha
Crivada de mamiquinha?
Pode haver coisa no mundo
Mais travessa, mais tontinha
Que esse amor de cachorrinha
Quando vem fazer festinha
Remexendo a traseirinha?

Vinícius De Moraes
******************


As Borboletas
Brancas, azuis, amarelas e pretas
Brincam na luz as belas borboletas
Borboletas brancas
São alegres e francas.
Borboletas azuis
Gostam muito de luz.
As amarelinhas
São tão bonitinhas!
E as pretas, então . . .
Oh, que escuridão!

Vinícius De Moraes
******************



Passarinho no Sapé

P tem papo
o P tem pé.
É o P que pia?
(Piu!)
Quem é?
O P não pia:
O P não é.
O P só tem papo
e pé.
Será o sapo?
O sapo não é.
(Piu!)
É o passarinho
que fez seu ninho
no sapé.
Pio com papo.
Pio com pé.
Piu-piu-piu:
Passarinho.
Passarinho
no sapé.
(Cecília Meireles, 1987, p. 104)


As meninas
(Cecília Meireles)
Arabela
abria a janela.
.Carolina
erguia a cortina.
.E Maria
olhava e sorria:
"Bom dia!"
.Arabela
foi sempre a mais bela.
.
Carolina
a mais sábia menina.
.E Maria
Apenas sorria:
"Bom dia!"
.Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
uma que se chamava Arabela,
outra que se chamou Carolina.
.
Mas a nossa profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,
que dizia com voz de amizade:
"Bom dia!"



A Língua do Nhem
(Cecília Meireles)

Havia uma velhinha
que andava aborrecida
pois dava a sua vida
para falar com alguém.
.E estava sempre em casa
a boa velhinha
resmungando sozinha:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
.O gato que dormia
no canto da cozinha
escutando a velhinha,
principiou também
.a miar nessa língua
e se ela resmungava,
o gatinho a acompanhava:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
.Depois veio o cachorro
da casa da vizinha,
pato, cabra e galinha
de cá, de lá, de além,
.e todos aprenderam
a falar noite e dia
naquela melodia
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
.
De modo que a velhinha
que muito padecia
por não ter companhia
nem falar com ninguém,
.ficou toda contente,
pois mal a boca abria
tudo lhe respondia:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...



O pato
Vinicius de Moraes / Toquinho / Paulo Soledade


Lá vem o pato
Pata aqui, pata acolá
Lá vem o pato
Para ver o que é que há


O pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
Pulou do poleiro
No pé do cavalo
Levou um coice
Criou um galo
Comeu um pedaço
De genipapo
Ficou engasgado
Com dor no papo
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi pra panela.



SEGREDO
Andorinha no fio
Escutou um segredo
Foi à torre da Igreja.
Cochichou com o sino.
E o sino bem alto
delém-dem
delém-dem
delém-dem
delém-dem!
Toda a cidade
Ficou sabendo.
Henriqueta Lisboa



A casa
Vinicius de Moraes

Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia entrar nela, não
Porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos Bobos
Número zero


© Tonga Editora Musical LTDA
A galinha d' Angola
Vinicius de Moraes / Toquinho

Coitada, coitadinha
Da galinha-d'Angola
Não anda ultimamente
Regulando da bola


Ela vende confusão
E compra briga
Gosta muito de fofoca
E adora intriga
Fala tanto
Que parece que engoliu uma matraca
E vive reclamando
Que está fraca


Tou fraca! Tou fraca!
Tou fraca! Tou fraca! Tou fraca!


Coitada, coitadinha
Da galinha-d'Angola
Não anda ultimamente
Regulando da bola


Come tanto
Até ter dor de barriga
Ela é uma bagunceira
De uma figa
Quando choca, cocoroca
Come milho e come caca
E vive reclamando
Que está fraca


Tou fraca! Tou fraca! Tou fraca!


Aquarela
Vinicius de Moraes / Toquinho / Guido Morra / Maurizio Fabrizio

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu


Vai voando, contornando
A imensa curva norte-sul
Vou com ela viajando
Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando
É tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vem surgindo
Um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo
Sereno indo
E se a gente quiser
Ele vai pousar


Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega num muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está


E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá


Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
Que descolorirá
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Que descolorirá
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Que descolorirá



Canção da noite
Vinicius de Moraes / Paulo Tapajós

Dorme
Que estou a teu lado
Dorme sem cuidado
Nã nã nã nã nã


Dorme
Oh, meu anjo lindo
Vai calma dormindo
Nã nã nã nã nã


Sonha
Com noites de lua
Que minh'alma é tua
Quem vela sou eu!


Dorme
Com riso na boca
Que a noite é bem pouca
Nã nã nã nã nã


Dorme
E sonha comigo
Com teu doce amigo
Nã nã nã nã nã


© Irmãos Vitale S/A

Quintal de Sonho


A menina dorme
e uma cortina
branca e leve
cobre seus olhos
no quarto enorme
e sem paredes.


Crescem cenouras, tomates,
rabanetes, beterrabas,
legumes coloridos
que colorem sua cabeça
num quintal de Sonho,
na horta do Amor
que não precisa de adubo,
nem de enxada,
nem de capinador.


A menina acorda
à hora da colheita
e dá "Bom-dia!"
aos lindos legumes
que não vai comer.


São da horta do Amor
e um a um vai oferecer.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *


Cleonice Rainho

Cores

Branco do leite, da neve
e dos flocos de algodão.

Amarelo das laranjas maduras,
do ouro e dos girassóis.

Cinzento das nuvens pesadas
e da cinza dos braseiros.

Roxo da quaresmeira florida
e de escondidas violetas.

Azul do céu de dias claros,
do anil e do mar profundo.

Marrom do chocolate gostoso
e das castanhas de Natal.

Rosa da corola de muitas flores
e do rosto de muitos nenéns.

Preto das noites escuras,
da fumaça e do carvão.

Verde das folhas viçosas
e das pedras de esmeralda.

E vermelho vivo do sangue
que colore nossos corações.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *


Quando penso em livros tiro logo os sapatos
e deixo as palavrinhas coceguearem meus pés.
Rosângela Trajano


Rosângela Trajano

As bonecas

Tenho muitas bonecas
Que ganhei de presente
Do papai e da mamãe
Bonecas que parecem gente.

Algumas podem falar ou andar
Outras chegam a sorrir
Prefiro as bonecas de panos
Que a vovó adora costurar.

Toda menina tem uma boneca
Para com ela brincar
São as guardiães dos nossos segredos
Nelas podemos confiar.

http://www.rosangelatrajano.com.br

Compro um barco cheio de vento
Roseana Murray


Compro um barco cheio de vento
com velas cor do firmamento
e uma bússola que aponte sempre
para as luas de saturno.
Compro um barco que conheça
caminhos secretos de mares desconhecidos.
Um barco feito de vento
onde caibam todos os meus amigos.
Compro um barco que saiba decifrar
os segredos escondidos
no coração das noites sem luar.


Pião - Roseana Murray


Um pião se equilibra
na palma da mão,
no chão, na calçada,
e alado vai rodando
por cima dos telhados,
gira entre as nuvens,
cada vez mais alto,
até que num salto
alcança a lua
e rola
até o seu lado oculto.
Faz a curva o pião
e ruma para Saturno,
tropeça nos anéis,
dá três cambalhotas,
se pendura
numa estrela cadente
e, sem graça,
volta para a palma da mão.

Mapa do tesouro - Roseana Murray

Fabrico um mapa do tesouro
para assinalar
as casas de todos os meus
amigos
com pedrinhas transparentes.
.
Para dentro de cada casa
carrego o meu olhar
aceso como girassol.
.
Casa de amigo vale mais
que montanhas de ouro.



Estrela cadente - Roseana Murray


Quando eu estiver
com o olhar distante,
maninha,
com um jeito esquisito
de quem não está presente,
não se assuste,
ó maninha,
fui logo ali,
no quintal do céu,
colher uma estrela cadente.


Riachinho - Roseana Murray

As águas claras
me contam segredos
de sol, de céu, de ar
e cantam acalantos
de ninar
enquanto correm ligeiras
da montanha para o mar.



Caixinha Mágica - Roseana Murray

Fabrico uma caixa mágica
para guardar o que não cabe
em nenhum lugar:
a minha sombra
em dias de muito sol,
o amarelo que sobra
do girassol,
um suspiro de beija-flor,
invisíveis lágrimas de amor.
.
Fabrico a caixa com vento,
palavras e desequilíbrio,
e para fechá-la
com tudo o que leva dentro,
basta uma gota de tempo.
.
O que é que você quer
esconder na minha caixa?



Mecânico de sonhos - Rosângela Trajano

O mecânico pegou a chave
Mas não a de fendas
Uma chave suave
Que não apertava parafusos
Mas consertava lendas.
.
O mecânico consertou
Um carro diferente
Não era um carro qualquer
Era um carro-gente
A mente seu motor.
.
O mecânico lubrificou
Os sonhos de uma menina
Com a graxa que pegou
Na sua esquisita oficina.


Comer chocolate - Rosângela Trajano

Comer chocolate
Guardar um
Dentro da fronha
Do meu travesseiro
Quem sabe ele sonha
Ou até vira brigadeiro.


Bailarina - Rosângela Trajano

.
Baila na ponta do pé
Baila e baila no ar
Tão arrumadinha
A linda menina
Baila bailarina
Minha avezinha.
.
Bailarina pequenina
Que voa no ar
Magrinha e sorridente
Pássaro a voar.
.
Bailarina bonitinha
Me ensinou a bailar
Como é difí¬cil
Minha bailarina
Na vida se equilibrar!
.
A bailarina
Mais parece
Uma flor
Leve, levinha
Um amor
Uma gracinha.


Férias - Rosângela Trajano

Eu vou viajar!
Eu vou dormir
Até mais tarde!
Nem vou me importar
Se o despertador
Não parar de tocar!
É férias!
Eu vou à praia
Tomar banho de mar
Vou ver o sol
Vou me bronzear!
É férias!
Eu vou passear
Andar por aí
Sem hora pra voltar
Sem medo de me atrasar!
Vou cochilar
Depois do almoço
Ficar de pijama
O dia inteiro
Dentro de casa
Passar horas no chuveiro!
É férias!
Nada de preocupação
Nenhuma reunião
Só viajar de avião
E dar alegria
Ao meu coração!



Receita para ser feliz - Rosângela Trajano

1 kg de coragem
1 xícara de esperança
½ colher de chá de humildade 2 copos de verdade
3 litros de tolerância.
.
Bata tudo no pensamento
Unte seu coração
Despeje nele os ingredientes
Agora é só esperar um momento
Conte até três
Está pronto!
.
Sirva para todos de casa:
A felicidade.



Escova de Dentes - Rosângela Trajano
.
Meus dentinhos vou limpar
Escovando-os, depois que me alimentar
E antes de, à noite, me deitar
Para nunca com dor reclamar.
.
Quero um sorriso bonito
Com dentes de artista
Por isso sempre visito
O consultório do dentista.
.
Aplico o flúor
Uso fio dental
Troco sempre a escova de dentes
Faço toda a higiene bucal.



Urso Panda - Rosângela Trajano
,
Eu nunca vi
Um urso panda
Mas gosto muito dele
É uma pena que
Existam tão poucos
Numa banda
Do mundo
Ursos pandas
Já não existem.

Será que quando
Eu crescer
Vou conhecer
Um urso panda?
Ou será que os ursos
Terão todos desaparecidos
Deste mundo desprevenido?

Eu sei, eu sei
Logo vou conhecer
Um urso panda
Porque o homem
Não vai viver
Procurando ursos pandas
Ele vai ver
Que isso é intolerável
Abominável, insuportável!

Urso panda
Me aguarde
Logo chego aí
Ainda não é tarde.


A Chuva - Rosângela Trajano

Gosto de olhar a chuva
A escorregar pela rua
Na esquina fazer uma curva
Esconder o sol da lua.
,
Pingos de chuva caem
Pelas janelas de vidro
Curioso dou espiadas
Nas pessoas agasalhadas.
,
A chuva deixa mais verde
As árvores dos canteiros
Os açudes sem sede
Sorrisos nos lírios dos jardineiros



CAIXINHA MÁGICA

Fabrico uma caixa mágica
para guardar o que não cabe
em nenhum lugar:
a minha sombra
em dias de muito sol,
o amarelo que sobra
do girassol,
um suspiro de beija-flor,
invisíveis lágrimas de amor.

Fabrico a caixa com vento,
palavras e desequilíbrio,
e para fechá-la
com tudo o que leva dentro,
basta uma gota de tempo.


Corujinha
Vinicius de Moraes / Toquinho

Corujinha, corujinha
Que peninha de você
Fica toda encolhidinha
Sempre olhando não sei quê

O seu canto de repente
Faz a gente estremecer
Corujinha, pobrezinha
Todo mundo que te vê
Diz assim, ah, coitadinha
Que feinha que é você

Quando a noite vem chegando
Chega o teu amanhecer
E se o sol vem despontando
Vais voando te esconder

Hoje em dia andas vaidosa
Orgulhosa como quê
Toda noite tua carinha
Aparece na TV
Corujinha, coitadinha
Que feinha que é você

© Tonga Editora Musical LTDA

O peru
Vinicius de Moraes / Toquinho / Paulo Soledade


Glu! Glu! Glu!

Abram alas pro peru!


O peru foi a passeio
Pensando que era pavão
Tico-tico riu-se tanto
Que morreu de congestão


O peru dança de roda
Numa roda de carvão
Quando acaba fica tonto
De quase cair no chão


O peru se viu um dia
Nas águas do ribeirão
Foi-se olhando, foi dizendo
Que beleza de pavão


Foi dormir e teve um sonho
Logo que o sol se escondeu
Que sua cauda tinha cores
Como a desse amigo seu


Cecília Meireles

Colar de Carolina

Com seu colar de coral,
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.

O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.

E o sol, vendo aquela cor
do colar de Carolina,
põe coroas de coral
nas colunas da colina.


Cecília Meireles - O Cavalinho Branco

À tarde, o cavalinho branco
está muito cansado:

mas há um pedacinho do campo
onde é sempre feriado.

O cavalo sacode a crina
loura e comprida

e nas verdes ervas atira
sua branca vida.

Seu relincho estremece as raízes
e ele ensina aos ventos

a alegria de sentir livres
seus movimentos.

Trabalhou todo o dia, tanto!
desde a madrugada!

Descansa entre as flores, cavalinho branco,
de crina dourada!


Cecília Meireles - Leilão de Jardim


Quem me compra um jardim com flores?

borboletas de muitas cores,

lavadeiras e passarinhos,

ovos verdes e azuis nos ninhos?

Quem me compra este caracol?

Quem me compra um raio de sol?

Um lagarto entre o muro e a hera,

uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?

E este sapo, que é jardineiro?

E a cigarra e a sua canção?

E o grilinho dentro do chão?

(Este é meu leilão!)


Cecília Meireles - O Mosquito Escreve

O mosquito pernilongo
trança as pernas, faz um M,
depois, treme, treme, treme,
faz um O bastante oblongo,
faz um S.

O mosquito sobe e desce.
Com artes que ninguém vê,
faz um Q,
faz um U, e faz um I.

Este mosquito
esquisito
cruza as patas, faz um T.
E aí,
se arredonda e faz outro O,
mais bonito.

Oh!
Já não é analfabeto,
esse inseto,
pois sabe escrever seu nome.

Mas depois vai procurar
alguém que possa picar,
pois escrever cansa,
não é, criança?

E ele está com muita fome.


Cecília Meireles - Sonhos da Menina

A flor com que a menina sonha
está no sonho?
ou na fronha?

Sonho
risonho:

O vento sozinho
no seu carrinho.

De que tamanho
seria o rebanho?

A vizinha
apanha
a sombrinha
de teia de aranha . . .

Na lua há um ninho
de passarinho.

A lua com que a menina sonha
é o linho do sonho
ou a lua da fronha?


Cecília Meireles - O Menino Azul

O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
— de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)


Cecília Meireles - Ou Isto ou Aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

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