domingo, 15 de maio de 2011

POESIA PARA CRIANÇAS






O CACHO
Tenho um brinquedo
Que causa arrepios
Que corre, que late,
E que dá rodopios :
- É meu cachorrinho
de estimação.
- Seu nome é Cacho,
meu vira-lata fofão. (do livro Na Ponta Da Pena)

O COELHO
O coelho que mora
No meu jardim
É o mesmo coelho
Que sorri prá mim

De olho vermelho
E rabo branquinho
Que salta com jeito
E se olha no espelho


O GATO
O gato Miguelim,
De rabo malhado
E bigode de espeto,
Só sabe o miado
do meio pro fim.

De tanto barulho
Que faz este gato,
Miando esquisito
No meio do mato,
A gente só ouve
O firinfinfin...


O Gato
Com um lindo salto Lesto e seguro
O gato passa Do chão ao muro
Logo mudando De opinião
Passa de novo Do muro ao chão
E pega corre Bem de mansinho
Atrás de um pobre De um passarinho
Súbito pára Como assombrado
Depois dispara
Pula de lado
E quando tudo
Se lhe fatiga
Toma o seu banho
Passando a língua
Pela barriga. Vinícius De Moraes


O Pingüim
Bom-dia, Pingüim
Onde vai assim, Com ar apressado?
Eu não sou malvado
Não fique assustado, Com medo de mim.
Eu só gostaria
De dar um tapinha
No seu chapéu de jaca
Ou bem de levinho
Puxar o rabinho
Da sua casaca. Vinícius De Moraes
******************

A Cachorrinha

Mas que amor de cachorrinha!
Mas que amor de cachorrinha!
Pode haver coisa no mundo
Mais branca, mais bonitinha
Do que a tua barriguinha
Crivada de mamiquinha?
Pode haver coisa no mundo
Mais travessa, mais tontinha
Que esse amor de cachorrinha
Quando vem fazer festinha
Remexendo a traseirinha? Vinícius De Moraes
******************

As Borboletas
Brancas, azuis, amarelas e pretas
Brincam na luz as belas borboletas
Borboletas brancas
São alegres e francas.
Borboletas azuis
Gostam muito de luz.
As amarelinhas
São tão bonitinhas!
E as pretas, então . . .
Oh, que escuridão! Vinícius De Moraes
******************

Passarinho no Sapé

P tem papo
o P tem pé.
É o P que pia?
(Piu!)
Quem é?
O P não pia:
O P não é.
O P só tem papo
e pé.
Será o sapo?
O sapo não é.
(Piu!)
É o passarinho
que fez seu ninho
no sapé.
Pio com papo.
Pio com pé.
Piu-piu-piu:
Passarinho.
Passarinho
no sapé.(Cecília Meireles, 1987, p. 104)


As meninas (Cecília Meireles)
Arabela
abria a janela.
.Carolina
erguia a cortina.
.E Maria
olhava e sorria:
"Bom dia!"
.Arabela
foi sempre a mais bela.
.
Carolina
a mais sábia menina.
.E Maria
Apenas sorria:
"Bom dia!"
.Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
uma que se chamava Arabela,
outra que se chamou Carolina.
.
Mas a nossa profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,
que dizia com voz de amizade:
"Bom dia!"



A Língua do Nhem (Cecília Meireles)

Havia uma velhinha
que andava aborrecida
pois dava a sua vida
para falar com alguém.
.E estava sempre em casa
a boa velhinha
resmungando sozinha:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
.O gato que dormia
no canto da cozinha
escutando a velhinha,
principiou também
.a miar nessa língua
e se ela resmungava,
o gatinho a acompanhava:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
.Depois veio o cachorro
da casa da vizinha,
pato, cabra e galinha
de cá, de lá, de além,
.e todos aprenderam
a falar noite e dia
naquela melodia
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
.
De modo que a velhinha
que muito padecia
por não ter companhia
nem falar com ninguém,
.ficou toda contente,
pois mal a boca abria
tudo lhe respondia:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...


O pato Vinicius de Moraes / Toquinho / Paulo Soledade

Lá vem o pato
Pata aqui, pata acolá
Lá vem o pato
Para ver o que é que há

O pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
Pulou do poleiro
No pé do cavalo
Levou um coice
Criou um galo
Comeu um pedaço
De genipapo
Ficou engasgado
Com dor no papo
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi pra panela.

SEGREDO
Andorinha no fio
Escutou um segredo
Foi à torre da Igreja.
Cochichou com o sino.
E o sino bem alto
delém-dem
delém-dem
delém-dem
delém-dem!
Toda a cidade
Ficou sabendo.
Henriqueta Lisboa


A casa Vinicius de Moraes

Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia entrar nela, não
Porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos Bobos
Número zero


A galinha d' Angola - Vinicius de Moraes / Toquinho

Coitada, coitadinha
Da galinha-d'Angola
Não anda ultimamente
Regulando da bola

Ela vende confusão
E compra briga
Gosta muito de fofoca
E adora intriga
Fala tanto
Que parece que engoliu uma matraca
E vive reclamando
Que está fraca

Tou fraca! Tou fraca!
Tou fraca! Tou fraca! Tou fraca!

Coitada, coitadinha
Da galinha-d'Angola
Não anda ultimamente
Regulando da bola

Come tanto
Até ter dor de barriga
Ela é uma bagunceira
De uma figa
Quando choca, cocoroca
Come milho e come caca
E vive reclamando
Que está fraca

Tou fraca! Tou fraca! Tou fraca!



Aquarela
Vinicius de Moraes / Toquinho / Guido Morra / Maurizio Fabrizio

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu

Vai voando, contornando
A imensa curva norte-sul
Vou com ela viajando
Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando
É tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vem surgindo
Um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo
Sereno indo
E se a gente quiser
Ele vai pousar

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega num muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está

E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
Que descolorirá
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Que descolorirá
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Que descolorirá

Canção da noite - Vinicius de Moraes / Paulo Tapajós

Dorme
Que estou a teu lado
Dorme sem cuidado
Nã nã nã nã nã

Dorme
Oh, meu anjo lindo
Vai calma dormindo
Nã nã nã nã nã

Sonha
Com noites de lua
Que minh'alma é tua
Quem vela sou eu!

Dorme
Com riso na boca
Que a noite é bem pouca
Nã nã nã nã nã

Dorme
E sonha comigo
Com teu doce amigo
Nã nã nã nã nã
© Irmãos Vitale S/A

Corujinha - Vinicius de Moraes / Toquinho

Corujinha, corujinha
Que peninha de você
Fica toda encolhidinha
Sempre olhando não sei quê

O seu canto de repente
Faz a gente estremecer
Corujinha, pobrezinha
Todo mundo que te vê
Diz assim, ah, coitadinha
Que feinha que é você

Quando a noite vem chegando
Chega o teu amanhecer
E se o sol vem despontando
Vais voando te esconder

Hoje em dia andas vaidosa
Orgulhosa como quê
Toda noite tua carinha
Aparece na TV
Corujinha, coitadinha
Que feinha que é você

O peru - Vinicius de Moraes / Toquinho / Paulo Soledade

Glu! Glu! Glu!
Abram alas pro peru!

O peru foi a passeio
Pensando que era pavão
Tico-tico riu-se tanto
Que morreu de congestão

O peru dança de roda
Numa roda de carvão
Quando acaba fica tonto
De quase cair no chão

O peru se viu um dia
Nas águas do ribeirão
Foi-se olhando, foi dizendo
Que beleza de pavão

Foi dormir e teve um sonho
Logo que o sol se escondeu
Que sua cauda tinha cores
Como a desse amigo seu

Colar de Carolina - Cecília Meireles

Com seu colar de coral,
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.

O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.

E o sol, vendo aquela cor
do colar de Carolina,
põe coroas de coral
nas colunas da colina.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

O Cavalinho Branco - Cecília Meireles
À tarde, o cavalinho branco
está muito cansado:

mas há um pedacinho do campo
onde é sempre feriado.

O cavalo sacode a crina
loura e comprida

e nas verdes ervas atira
sua branca vida.

Seu relincho estremece as raízes
e ele ensina aos ventos

a alegria de sentir livres
seus movimentos.

Trabalhou todo o dia, tanto!
desde a madrugada!

Descansa entre as flores, cavalinho branco,
de crina dourada!

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Leilão de Jardim - Cecília Meireles

Quem me compra um jardim
com flores?

borboletas de muitas
cores,

lavadeiras e pas-
sarinhos,

ovos verdes e azuis
nos ninhos?

Quem me compra este ca-
racol?

Quem me compra um raio
de sol?

Um lagarto entre o muro
e a hera,

uma estátua da Pri-
mavera?

Quem me compra este for-
migueiro?

E este sapo, que é jar-
dineiro?

E a cigarra e a sua
canção?

E o grilinho dentro
do chão?

(Este é meu leilão!)

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

O Mosquito Escreve - Cecília Meireles

O mosquito pernilongo
trança as pernas, faz um M,
depois, treme, treme, treme,
faz um O bastante oblongo,
faz um S.

O mosquito sobe e desce.
Com artes que ninguém vê,
faz um Q,
faz um U, e faz um I.

Este mosquito
esquisito
cruza as patas, faz um T.
E aí,
se arredonda e faz outro O,
mais bonito.

Oh!
Já não é analfabeto,
esse inseto,
pois sabe escrever seu nome.

Mas depois vai procurar
alguém que possa picar,
pois escrever cansa,
não é, criança?

E ele está com muita fome.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Sonhos da Menina - Cecília Meireles

A flor com que a menina sonha
está no sonho?
ou na fronha?

Sonho
risonho:

O vento sozinho
no seu carrinho.

De que tamanho
seria o rebanho?

A vizinha
apanha
a sombrinha
de teia de aranha . . .

Na lua há um ninho
de passarinho.

A lua com que a menina sonha
é o linho do sonho
ou a lua da fronha?

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
O Menino Azul - Cecília Meireles

O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
— de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Ou Isto ou Aquilo - Cecília Meireles

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

A Pombinha da Mata - Cecília Meireles

Três meninos na mata ouviram
uma pombinha gemer.

"Eu acho que ela está com fome",
disse o primeiro,
"e não tem nada para comer."

Três meninos na mata ouviram
uma pombinha carpir.

"Eu acho que ela ficou presa",
disse o segundo,
"e não sabe como fugir."

Três meninos na mata ouviram
uma pombinha gemer.

"Eu acho que ela está com saudade",
disse o terceiro,
"e com certeza vai morrer."

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Quintal de Sonho - Cecília Meireles

A menina dorme
e uma cortina
branca e leve
cobre seus olhos
no quarto enorme
e sem paredes.

Crescem cenouras, tomates,
rabanetes, beterrabas,
legumes coloridos
que colorem sua cabeça
num quintal de Sonho,
na horta do Amor
que não precisa de adubo,
nem de enxada,
nem de capinador.

A menina acorda
à hora da colheita
e dá "Bom-dia!"
aos lindos legumes
que não vai comer.

São da horta do Amor
e um a um vai oferecer.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Cleonice Rainho - Cores

Branco do leite, da neve
e dos flocos de algodão.

Amarelo das laranjas maduras,
do ouro e dos girassóis.

Cinzento das nuvens pesadas
e da cinza dos braseiros.

Roxo da quaresmeira florida
e de escondidas violetas.

Azul do céu de dias claros,
do anil e do mar profundo.

Marrom do chocolate gostoso
e das castanhas de Natal.

Rosa da corola de muitas flores
e do rosto de muitos nenéns.

Preto das noites escuras,
da fumaça e do carvão.

Verde das folhas viçosas
e das pedras de esmeralda.

E vermelho vivo do sangue
que colore nossos corações.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *


Quando penso em livros tiro logo os sapatos
e deixo as palavrinhas coceguearem meus pés.
Rosângela Trajano



Rosângela Trajano - As bonecas

Tenho muitas bonecas
Que ganhei de presente
Do papai e da mamãe
Bonecas que parecem gente.

Algumas podem falar ou andar
Outras chegam a sorrir
Prefiro as bonecas de panos
Que a vovó adora costurar.

Toda menina tem uma boneca
Para com ela brincar
São as guardiães dos nossos segredos
Nelas podemos confiar.

http://www.rosangelatrajano.com.br

Compro um barco cheio de vento - Roseana Murray

Compro um barco cheio de vento
com velas cor do firmamento
e uma bússola que aponte sempre
para as luas de saturno.
Compro um barco que conheça
caminhos secretos de mares desconhecidos.
Um barco feito de vento
onde caibam todos os meus amigos.
Compro um barco que saiba decifrar
os segredos escondidos
no coração das noites sem luar.


Pião - Roseana Murray

Um pião se equilibra
na palma da mão,
no chão, na calçada,
e alado vai rodando
por cima dos telhados,
gira entre as nuvens,
cada vez mais alto,
até que num salto
alcança a lua
e rola
até o seu lado oculto.
Faz a curva o pião
e ruma para Saturno,
tropeça nos anéis,
dá três cambalhotas,
se pendura
numa estrela cadente
e, sem graça,
volta para a palma da mão.

Mapa do tesouro - Roseana Murray

Fabrico um mapa do tesouro
para assinalar
as casas de todos os meus
amigos
com pedrinhas transparentes.
.
Para dentro de cada casa
carrego o meu olhar
aceso como girassol.
.
Casa de amigo vale mais
que montanhas de ouro.


Estrela cadente - Roseana Murray

Quando eu estiver
com o olhar distante,
maninha,
com um jeito esquisito
de quem não está presente,
não se assuste,
ó maninha,
fui logo ali,
no quintal do céu,
colher uma estrela cadente.

Riachinho - Roseana Murray

As águas claras
me contam segredos
de sol, de céu, de ar
e cantam acalantos
de ninar
enquanto correm ligeiras
da montanha para o mar.

Caixinha Mágica - Roseana Murray

Fabrico uma caixa mágica
para guardar o que não cabe
em nenhum lugar:
a minha sombra
em dias de muito sol,
o amarelo que sobra
do girassol,
um suspiro de beija-flor,
invisíveis lágrimas de amor.
.
Fabrico a caixa com vento,
palavras e desequilíbrio,
e para fechá-la
com tudo o que leva dentro,
basta uma gota de tempo.
.
O que é que você quer
esconder na minha caixa?


Mecânico de sonhos - Rosângela Trajano

.
O mecânico pegou a chave
Mas não a de fendas
Uma chave suave
Que não apertava parafusos
Mas consertava lendas.
.
O mecânico consertou
Um carro diferente
Não era um carro qualquer
Era um carro-gente
A mente seu motor.
.
O mecânico lubrificou
Os sonhos de uma menina
Com a graxa que pegou
Na sua esquisita oficina.

Comer chocolate - Rosângela Trajano

Comer chocolate
Guardar um
Dentro da fronha
Do meu travesseiro
Quem sabe ele sonha
Ou até vira brigadeiro.


Bailarina - Rosângela Trajano
.
Baila na ponta do pé
Baila e baila no ar
Tão arrumadinha
A linda menina
Baila bailarina
Minha avezinha.
.
Bailarina pequenina
Que voa no ar
Magrinha e sorridente
Pássaro a voar.
.
Bailarina bonitinha
Me ensinou a bailar
Como é difí¬cil
Minha bailarina
Na vida se equilibrar!
.
A bailarina
Mais parece
Uma flor
Leve, levinha
Um amor
Uma gracinha.

Férias - Rosângela Trajano

Eu vou viajar!
Eu vou dormir
Até mais tarde!
Nem vou me importar
Se o despertador
Não parar de tocar!
É férias!
Eu vou à praia
Tomar banho de mar
Vou ver o sol
Vou me bronzear!
É férias!
Eu vou passear
Andar por aí
Sem hora pra voltar
Sem medo de me atrasar!
Vou cochilar
Depois do almoço
Ficar de pijama
O dia inteiro
Dentro de casa
Passar horas no chuveiro!
É férias!
Nada de preocupação
Nenhuma reunião
Só viajar de avião
E dar alegria
Ao meu coração!

Receita para ser feliz - Rosângela Trajano

1 kg de coragem
1 xícara de esperança
½ colher de chá de humildade 2 copos de verdade
3 litros de tolerância.
.
Bata tudo no pensamento
Unte seu coração
Despeje nele os ingredientes
Agora é só esperar um momento
Conte até três
Está pronto!
.
Sirva para todos de casa:
A felicidade.

Escova de Dentes - Rosângela Trajano
.
Meus dentinhos vou limpar
Escovando-os, depois que me alimentar
E antes de, à noite, me deitar
Para nunca com dor reclamar.
.
Quero um sorriso bonito
Com dentes de artista
Por isso sempre visito
O consultório do dentista.
.
Aplico o flúor
Uso fio dental
Troco sempre a escova de dentes
Faço toda a higiene bucal.

Urso Panda - Rosângela Trajano
,
Eu nunca vi
Um urso panda
Mas gosto muito dele
É uma pena que
Existam tão poucos
Numa banda
Do mundo
Ursos pandas
Já não existem.

Será que quando
Eu crescer
Vou conhecer
Um urso panda?
Ou será que os ursos
Terão todos desaparecidos
Deste mundo desprevenido?

Eu sei, eu sei
Logo vou conhecer
Um urso panda
Porque o homem
Não vai viver
Procurando ursos pandas
Ele vai ver
Que isso é intolerável
Abominável, insuportável!

Urso panda
Me aguarde
Logo chego aí
Ainda não é tarde.


A Chuva - Rosângela Trajano

Gosto de olhar a chuva
A escorregar pela rua
Na esquina fazer uma curva
Esconder o sol da lua.
,
Pingos de chuva caem
Pelas janelas de vidro
Curioso dou espiadas
Nas pessoas agasalhadas.
,
A chuva deixa mais verde
As árvores dos canteiros
Os açudes sem sede
Sorrisos nos lírios dos jardineiros

DENTRO DE UMA ÁRVORE

Existo dentro de uma árvore,
em seu oco,
em seu silêncio, sou sua seiva
enquanto fabrica sementes.
Os pés se misturam
com as raízes,
caminham dentro da terra,
reconhecem o rumor
da noite subterrânea.
Os braços são galhos,
as mãos se balançam
ao redor do vento:
eu e a árvore
o mesmo pensamento.
Minha imobilidade
dura alguns séculos.

in Carteira de Identidade, ed. Lê.

VELUDO ÁSPERO

Para falar do medo
chamo a noite,
seu veludo áspero
na garganta.
Chamo as raízes
apodrecidas no cerne
da terra,
chamo as notas
estridentes
de um violino quebrado.
Para falar do medo,
escrevo no quadro-negro
a palavra mortal.

in Carteira de Identidade, ed. Lê.

ANJO

Em cada precipício me sento
e um anjo me sussurra com calma
as encruzilhas,
as estradas desconhecidas.

Todos os meus anseios
estão em suas mãos
e com seu hálito me acalma,
me acalanta.

Durma, ele me diz, sentado
na beira de minha sombra,
não tenha medo dos sonhos.

in Carteira de Identidade, ed. Lê.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Com patas de fogo
um cavalo rasga o vento:
pousa em meus sonhos.

Arabescos no Vento, ed. Prumo, ilustrações de Elvira Vigna

Amor é o cais,
um veleiro se aproxima,
as águas ssussurram

Arabescos no Vento, ed. Prumo, ilustrações de Elvira Vigna

Um beijo dourado
varre o corpo com luz,
ilumina o céu.

Arabescos no Vento, ed. Prumo, ilustrações de Elvira Vigna
NEBULOSAS

Tem pessoas que amamos
de amor tão intenso
que com seus gestos-palavras
vão fabricando nebulosas
dentro do corpo da gente

Poemas de Céu, ed. Paulinas, ilustrações de mari Ines Piekas

ESTRELA CADENTE

Quando eu estiver
com o olhar distante,
maninha,
com um jeito esquisito
de quem não está presente,
não se assuste,
ó maninha,
fui logo ali,
no quintal do céu,
colher uma estrela cadente.

Poemas de Céu, ed. paulinas, ilustrações de Mari Ines Piekas

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
AMIGO

No rumo certo do vento,
amigo é nau de se chegar
em lugar azul.
Amigo é esquina
onde o tempo para
e a Terra não gira,
antes paira,
em doçura contínua.
Oceano tramando sal,
mel inventando fruta,
amigo é estrela sempre
no rumo certo do vento,
com todas as metáforas,
luzes, imagens
que sua condição de estrela contém.

Poemas de Céu, ed. Paulinas, ilustrações de mari Ines Piekas
RIACHINHO

As águas claras
me contam segredos
de sol, de céu, de ar
e cantam acalantos
de ninar
enquanto correm ligeiras
da montanha para o mar.

Fardo de carinho, ed. Lê, ilustrações de Elvira Vigna

HORIZONTE

Se eu apagasse a fina linha
do horizonte
será que o céu cairia
no mar?
E as estrelas e a lua
começariam a navegar?

Ou será que o mar viraria
céu
e os peixes aprenderiam
a voar?

Fardo de carinho, ed. Lê, il.Elvira Vigna

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
TRAPEZISTA

A trapezista brinca no balanço
toda vestida de branco
e braceletes no braço.

Não tem medo a trapezista
salta, gira e desafia,
seu corpo miúdo parece
um simples traço no espaço.

TRANSFORMAÇÃO

Fabrico uma árvore
com uma simples semente,
terra escura e quieta,
umas gotas de água.

Pouco a pouco,
de lua em lua,
de folha em folha,
enquanto o tempo
desenha arabescos
em meu rosto,
minha árvore se transforma
em poema vivo,
suas letras são flores,
são frutos, são música

Fábrica de poesia, Ed. Scipione, 2008

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
MEL

Na curva da primavera,
no alto da montanha,
abelhas fabricam mel.
zumbem, dançam, rodopiam,
cantam para as flores
o azul do dia.

COMIDA DE SEREIA

O que será que a sereia come
em seu castelo de areia?
Enquanto penteia os cabelos
a panela esquenta na cozinha:
será que a sereia come anêmonas,
ostras, cavalos-marinhos?
Ou delicados peixinhos de olhos
dourados?
Algas marinhas, lulas, sardinhas?
Polvos, mariscos, enguias,
ou será que a sereia come poesia?

ELFOS

Elfos comem o perfume
das flores trazido pelo
vento,
comem os mais belos
pensamentos,
e as cores do dia
que o galo faz.
Comem o canto do galo,
as melodias dos pássaros
azuis,
comem a luz que cintila
na folha cheia de orvalho.
Elfos comem a sombra da lua,
o brilho da estrela
que já não existe mais.

Poemas e Comidinhas, Ed. Paulus, 2008

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
JOGO DA VERDADE

A verdade é um labirinto.

Se digo a verdade inteira,
se digo tudo o que penso,
se digo com todas as letras,
com todos os pingos nos is,
seria um deus-nos-acuda,
entraria um sudoeste
pela janela da sala.
Então eu digo
a verdade possível,
e o resto guardo
a sete chaves
no meu cofre de silêncios.

PIÃO

Um pião se equilibra
na palma da mão,
no chão, na calçada,
e alado vai rodando
por cima dos telhados,
gira entre as nuvens,
cada vez mais alto,
até que num salto
alcança a lua
e rola
até o seu lado oculto.
Faz a curva o pião
e ruma para Saturno,
tropeça nos anéis,
dá três cambalhotas,
se pendura
numa estrela cadente
e, sem graça,
volta para a palma da mão.

FADAS E BRUXAS

Metade de mim é fada,
a outra metade é bruxa.
Uma escreve com sol,
a outra escreve com a lua.
Uma anda pelas ruas
cantarolando baixinho,
a outra caminha de noite
dando de comer à sua sombra.
Uma é séria, a outra sorrí;
uma voa, a outra é pesada.
Uma sonha dormindo,
a outra sonha acordada.

in Pêra, Uva ou Maçã, ed. Scipione, 2005

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

QUINZE

Ecoa nos ares o minarete,
e dele escapa
um grito pungente,
feito pássaro que houvesse
fugido
de uma gaiola dourada.
É a hora sagrada:
todo homem tem um encontro
marcado com Deus
e mistura as orações com saliva,
como a mãe que oferece
ao filho
pedaços da sua própria comida.

CINCO

Percorrer o silêncio do deserto,
sua espinha dorsal
feita de murmúrios, vertigens,
caravanas, o ruminar dos camelos.

Numa noite escura
uma fonte escondida
fabrica sonhos e água.

VINTE E DOIS

Rente ao muro
o homem caminha.
Seu corpo encharcado
de orações
carrega um bastão sagrado.
Com seus passos costura
o oriente ao ocidente.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

ATLÂNDIDA

O caminho para a Atlântida
é de terra ou de luar?
é de linho, lã ou vento
o chão que devo pisar?

Parto agora para a Atlântida,
por estradas que invento,
passo perto de Pasárgada,
cruzo fronteiras no céu
e descubro que a Atlântida
fica na esquina de mim.

JANELAS

Em todas as janelas me debruço,
em todos os abismos
estendo uma corda
e caminho sobre o nada.
Também ando sobre as águas,
subo em nuvens,
galgo intermináveis escadas.
Abro todas as portas
e cavernas com um sopro
ou três palavras mágicas.
Mergulho em torvelinhos,
danço no meio do vento,
pulo dentro da tempestade.
Em cada encruzilhada me sento
e tento arrumar o destino,
estranho castelo de areia.

AVESSO

Atravessaria um rio grosso
no meio da noite
para decifrar tuas pegadas,
o rastro luminoso dos teus olhos.

Atravessaria a superfície
silenciosa dos espelhos
para ver o teu avesso.

Caminharia sobre água
e fogo
para soletrar teu corpo.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

MULHERES ACROBATAS

Onde se esconde a nascente
dos sonhos?
Em que alta montanha
ou profundeza de abismo?
Em que curva de rio
ou espuma de onda?
Em que gaze esgarçada
ou doçura de vento?

Nas estradas batidas
por unicórnios e silêncios
os saltimbancos vão passando
rumo ao coração de cada um
com seus trapézios e luz
e mulheres acrobatas.

NOVELO

Com fina linha prateada
o sonhador borda a sua vida:
na fronteira entre o dia e a noite,
entre uma estrela e outra,
uma palavra e sua sombra,
ergue um castelo de vento,
desfralda as bandeiras da paz.

PAUL KLEE

Os olhos como barcos,
entro escondida
num quadro do Klee.
O céu é a rua,
e o equilibrista,
quase sem respirar,
me ensina os segredos da vida.
Sobretudo, ele me diz,
é preciso saber conservar
as pernas no ar
e manter o olhar perdido;
Carregar pedaços de lua
no pensamento e sonhar.

A vida é pura navegação
e saio do quadro
como um pássaro invisível.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

VENTO

assim me chama o vento
me despenteia os cabelos
nas teias do precipício
a vida começa hoje
começa sempre
desde o nada até a medula
todos os dias
colar os ossos
e ouvir o ruído
subterrâneo de um rio
a vida começa hoje
sempre por um fio
a alma é um pêndulo
leva as horas
de encontro
às pedras.

PARTIDA

Hoje arrumo as flores
em cima da mesa
as frutas na memória
quero um dia bem simples
alguma luz pousada
na superfície da água

hoje chamo para mim
amorosas palavras
que vivam um dia
perto do meu coração
que corram pela casa
com sua mistura de mel e espanto

alguém parte com um ruído seco
alguém sempre está partindo

SINOS

quando estava só
nos meus vastos campos
de machucadas orquídeas
e silêncio
e à noite bebia em taças opacas
estrelas líquidas e passado
e o vento do deserto
me alcançava trazendo
o rumor dos mortos
você chegou
com vassoura de luz
varreu a casa e limpou os sinos


O girassol - Vinicius de Moraes

Sempre que o sol
Pinta de anil
Todo o céu
O girassol
Fica um gentil
Carrossel.

O girassol é o carrossel das abelhas.

Pretas e vermelhas
Ali ficam elas
Brincando, fedelhas
Nas pétalas amarelas.

— Vamos brincar de carrossel, pessoal?

— "Roda, roda, carrossel
Roda, roda, rodador
Vai rodando, dando mel
Vai rodando, dando flor".

— Marimbondo não pode ir que é bicho mau!
— Besouro é muito pesado!
— Borboleta tem que fingir de borboleta na entrada!
— Dona Cigarra fica tocando seu realejo!

— "Roda, roda, carrossel
Gira, gira, girassol
Redondinho como o céu
Marelinho como o sol".

E o girassol vai girando dia afora . . .

O girassol é o carrossel das abelhas.

Vinicius de Moraes - O elefantinho

Onde vais, elefantinho
Correndo pelo caminho
Assim tão desconsolado?
Andas perdido, bichinho
Espetaste o pé no espinho
Que sentes, pobre coitado?

— Estou com um medo danado
Encontrei um passarinho!

http://www.jornaldepoesia.jor.br/vm.html
http://www.roseanamurray.com/poemafalado/
http://dicasmil.com.br/poesias-para-criancas-amizade.html
http://amigosdaeducacao.com/category/livros-e-colecoes/poesias-para-criancas

Peixe

O peixinho prateado
no aquário sempre vejo!
Bem me fita, o assanhado,
só querendo me dar beijos.
Sua boca um “oi” miúdo
vai dizendo e isso é bom,
só o peixe, neste mundo,
fala “oi”, sem soltar som.

http://recantodasletras.uol.com.br/autor_textos.php?id=356&categoria=O

Nenhum comentário:

Postar um comentário