sexta-feira, 27 de maio de 2011

Relato dramático,trágico, triste…DE UMA PROFESSORA

27 de maio de 2011

Um dos mais dramáticos e contundentes relatos dos professores em greve vai agora publicado. É o retrato das dificuldades, dos desafios, das gigantescas montanhas que os professores precisam vencer para cumprir a missão. Eles, muitas vezes, sobre mais do que os pais na educaçao de seus filhos. E, também com frequência, sentem-se impotentes para executar as regras do ensino de qualidade. O e-mail é da professora Irene Regina Correa. É longo,mas merece cuidadosa leitura e muita reflexão. Em respeito à professora vai na íntegra. Acompanhe:

Sou professora ACT há 12 anos, tenho 37 anos de idade, me chamam de “professora Iara”, sou cidadã, filha, mãe e pai de duas crianças maravilhosas e mãe de outras dezenas (cresci com a concepção de que professora é nossa segunda mãe), e não posso deixar de mencionar que ser professora, educadora, formadora, me deixa muito orgulhosa e dá satisfação aos meus filhos e família, e preciso dizer: “EU ACREDITO NA EDUCAÇÃO”, porém, ”ESTOU EM GREVE SIM!”
Cansei, cansei de chegarem épocas de outubro e começar a pensar que o ano letivo está acabando, que em dezembro receberei quinze ou dezesseis dias de trabalho, que em janeiro e fevereiro não terei um salário, aliás não terei um emprego… Pra que uma formação, profissão e não ter um emprego?
As aulas recomeçam, vários professores como eu, sem remuneração, sem empregos e alunos voltam para casa porque “ não” tem professores!?
Prestamos uma prova ao termino do ano, onde as formações e graduações dão pontuações e com o resultado de nossas provas somos colocados em uma listagem, quer dizer somos transformados em números. Aí vem o dia das tais escolhas, lá encontramos professores, sofredores, que vivem a mesma angustia que eu, tem dias que chegamos ás 8:00hs e saímos às 20:00hs derrotados pelo cansaço e pelo fato de ainda não ter arranjado um emprego, não ter dinheiro para nos alimentar direito. Não podendo deixar de lembrar que depois desta primeira e árdua batalha, depois que a merenda foi privatizada não podemos comê-las, se sobrar, por incrível que pareça, a ordem é JOGAR FORA!
Mas já estamos nos acostumando, e tupperware (vasilhame plástico) com o almoço já faz parte do kit do professor, e na sala dos professores durante o meio dia, respeitando a ordem de chegada, em fila indiana, esperamos a vez de aquecê-la no micro ondas que ainda é permitido usar, mas o pior de tudo é ficar na fila do banheiro para escovar os dentes e lavar nossas vasilhas. Ah! Antes que se perguntem, o que ela faz com seu vale refeição? Nós professores já o apelidamos de “vale coxinha”, o que o governo nos dá são R$ 6 por dia (se trabalho três períodos posso gastar R$ 2 por turno), ou seja, R$ 132 mensais – se não houver feriado naquele mês é claro.
Se acham que isso é tudo, ainda não acabou, trabalhei em uma escola, ano passado onde fui contemplada com um aluno “especial” em “vadiagem” – quando na escola vizinha já tinha batido em alunos, cuspido em professores,depredado carros de professores, a escola e outras perversidades, uma santa alma que não se sabem de onde, mandou que a escola teria que dar vaga para essa “criança”, que a educação especial mandaria uma 2ª professora para que ele não agredisse ninguém(não tenho nada contra as 2ª professoras, bem pelo contrário, foi com uma dessas companheiras que fizemos trabalhos maravilhosos e nos realizamos ). Esse aluno por meses, me fez duvidar da “educação”, em plena 07:45 hs pisava na porta e gritava(com o perdão das palavras)”Quem olhar pra mim, vou encher de PORRADA” – era repugnante ver as crianças olharem pro teto ou paredes e se encolherem para não serem agredidos com socos,tapas, puxões de cabelos e orelhas, é engraçado mas até eu e a outra professora, também olhávamos para o teto.
Mandava-me “CALAR A BOCA” quando ia explicar os conteúdos; me chamava de CADELA, VAGABUNDA, quase sempre jogava em mim e ou nas crianças cadernos, livros… Chutava as mochilas, lixeiras, carteiras e cuspia em todos. O conselho tutelar e a polícia quase fizeram parte em minha lista de chamada, pois era constante suas presenças. Junto com a direção, fizemos vários encaminhamento a GERED, com B.Os, relatos e nada, até que um dia após outra vez ser cuspida, minha paciência e profissionalismo foram para o espaço, porque as pessoas esquecem que professores são seres humanos, desabei em prantos pela humilhação e condições que me obrigavam a passar. Comuniquei à direção que iria até a GERED e só sairia de lá com um respaldo, que me mostrassem que lei é essa que garantia a permanência de um aluno em sala “especializado em vadiagem” e que não protegia os outros 27. Além de ser apoiada, fui acompanhada da diretora, nos colocamos sentadas até falarmos pessoalmente com o Gerente de Educação, ele desconhecia o fato, chamou todas as responsáveis dessa área, e num segundo em nossa frente marcou uma reunião com a promotoria da Vara da Infância e Juventude de Fpolis. Dias depois, ao reunirmos com o promotor, tive todos os motivos de desacreditar na Educação, pois segundo o promotor esse aluno era mais um que não chegaria aos 15 anos, que o Centro São Lucas estava fechado(sei que ele teve muita boa vontade conosco e que sua visão era diferente da nossa – somos formadores ),que mandaria uma assistente social para averiguar sua família. Isso foi em uma 6ª feira, na 4ª feira seguinte, esse aluno após afiar a ponta do lápis, tentou furar o braço de um “colega de classe”, ao impedi-lo fui mordida e ao cair fui chutada, com a mão que tentava contê-lo, tentou quebrar meu dedo… Só não apanhei mais, porque alguns alunos que estavam no corredor o tiraram de cima de mim!
Peguei um táxi e fui até a delegacia da mulher e criança, sentada lá me senti um lixo.
Saí às 06:40 hs da minha casa, deixei meus filhos de 14 e 08 anos em casa dormindo, desejei que tivessem uma boa aula, um ótimo dia e que Deus os protegessem, saí para trabalhar e fui humilhada, maltratada e ao invés de estar dando aula estava numa delegacia fazendo um “boletim de ocorrência” por ser agredida por um “ALUNO”!
Fui encaminhada para fazer Corpo e Delito, o taxista que me levou ficou penalizado com minha situação e me propôs fazer um preço camarada e me aguardava ao lugares que precisava ir. Maior humilhação foi que o médico que fez meu exame de corpo e delito, falou-me que teria direito de uma licença de 15 dias… Não pude pegar, sabem por quê? Teria R$ 400 e alguma coisa descontada e como relatei no começo sou professora, mãe e pai e esse dinheiro faria falta, deixaria um rombo na minha “geladeira e dispensa”!
Mas como existem anjos na vida da gente, minha diretora mandou-me pegar minha bolsa e ficar o resto da semana em casa, fui apoiada pelos pais e pelos alunos. O agressor de 10 anos foi encaminhado a pedido do conselho tutelar e promotoria a fazer exames psiquiátricos, claro que tive me mandar fotos, B.O, relatórios, blá,blá,blá,blá,blá…..
E por algum tempo se os velhos e guerreiros amigos me perguntassem, se “ACREDITAVA,AINDA, NA EDUCAÇÃO” não saberia o que lhes dizer!!!
Mas quando se é PROFESSOR, QUANDO SE AMA O QUE FAZ, QUANDO SOMOS LEMBRADOS POR ANTIGOS ALUNOS E ELES DIZEM QUE DEIXAMOS UMA MARQUINHA NA VIDA DELES, QUANDO TEMOS AMIGOS QUE SOBREVIVEM NAS MESMAS CONDIÇÕES – SÓ NOS DÁ COMBUSTIVEL PARA SAIR E LUTAR POR DIAS E SALARIOS MELHORES!!!!
INDEPENDENTE DE SER EFETIVO OU ACT SOMOS PROFESSORES, JUNTOS TEMOS MUITA FORÇA…”
Postado por Moacir Pereira, às 18:20
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