sábado, 4 de junho de 2011

Os dramas da educação em SC. DESABAFOS DE PROFESSORES




4 de junho de 2011 - TEXTO RETIRADO DO BLOG DO JORNALISTA MOACIR PEREIRA

Marines Khunené professora da rede estadual. Encaminho e-mail a este blog nos seguintes termos:

“Sou professora e gostaria de esclarecer alguns fatos à sociedade,pois acho que nosso sindicato deixa a desejar neste sentido.
Trabalho em escolas públicas a 12 anos,60hs semanais,ou seja nos três períodos e todo mês escolho que contas vou pagar,isso que não tenho filhos,imagino aquelas que os tem.
Pego vários ônibus por dia,pois as escolas onde trabalho são em direções opostas.Tem dias que nem almoço.
Estamos lutando por algo que é de nosso direito,que é o piso nacional estipulado pelo MEC.O governo atual,apesar de demonstrar boa vontade,diferente do governo anterior que era ditador e ignorante,não consegue chegar a um acordo,decepcionando a categoria que a cada dia se fortalece e aqueles que não aderiram inicialmente,acabam por fazê-lo,tamanha indignação.
É importante que a sociedade,que pais e alunos saibam da atual situação da educação em SC:
*265 milhões do FUNDEB,dinheiro esse que deveria estar sendo investido em escolas adequadas,salários e capacitação dos professores etc….. são desviados para outros órgãos,isso graças ao ex governador que ainda elegeu-se senador.Parece piada!
Raimundo Colombo nos fez uma proposta que a primeira vista,para a população parece boa,mas não é.
*Professores que trabalham do 6º ao 9º ano ganham 25% de regência de classe e os do primário 40% de regência,isso por estarem em sala de aula.Esse direito temos a anos.Raimundo Colombo quer passar para 15% para todos.
*Todo ano mais ou menos no mês de março,abril,aqueles professores que não tiveram faltas ganham prêmio assiduidade,uma maneira de premiar aqueles que dedicaram-se ao máximo,pois hoje em dia é raro escolas que não tenham falta de professores,devido estresse e problemas de saúde.Raimundo Colombo quer tirar o prêmio assiduidade.
*Ganhamos 200 reais de prêmio educar.Um dos penduricalhos do governo anterior que foi dado aos professores para que não entrassemos em greve, e nós aceitamos…até hoje não entendo como.Agora,Raimundo Colombo quer fazer o que sempre tememos: tirar o prêmio educar.
*Para que o professor receba por 40hs ,ele deve dar 32 aulas semanais.Eu,trabalho 40hs(carga cheia) para aumentar um pouco o salário.Estas 8 aulas excedentes dá um total de 350,00 a mais no meu salário.Raimundo Colombo quer cortar as aulas excedentes.Isso culminará em mais falta de professores,pois certamente todos aqueles que tem aulas excedentes largarão,pois ninguém trabalhará a mais para não ganhar nada.
Então…..me digam sinceramente o que ganhamos até agora? Nada! Ele vai para televisão dizendo que dará um piso de 1430,00,mas está nos tirando tudo que ganhamos e que temos a anos por direito.
Somente quem é professor sabe o que enfrentamos em sala de aula.Recebo diariamente emails de alunos perguntando-me se tenho idéia de quando terminará a greve,pois eles não aguentam mais ficar em casa, não tem nada para fazer.Esta é a realidade,a maioria dos jovens hoje em dia vão para escola para namorar,conversar,brincar etc…..menos para estudar.Já vi amigas minhas apanhando de alunos.Já recebi ameaças de alunos dizendo que me matariam fora da escola,simplesmente porque chamei sua atenção.Pais reclamam que não dão contas do filho ,e nós,damos conta diariamente de 200,300 alunos,cada qual com personalidade diferente.
A sociedade deve se unir e os pais pararem de ver os professores como babás e a escola como depósito para seus filhos.Somente dessa forma, sendo críticos,batalhando pelos nossos direitos é que teremos a chance de um mundo melhor para nós e para nossos jovens.
Marinês Khunen”


Iara Maria Schussler Nicolau diz:
4 de junho de 2011 às 3:06 pm

COMENTÁRIO ESCRITO NO BLOG DO JORNALISTA MOACIR PEREIRA

O QUE FAZ UM PROFESSOR?

Atuo no ensino público estadual há 28 anos. Durante a semana 400 alunos frequentam minhas aulas de Língua Portuguesa e Estrangeira, são 14 turmas do ensino fundamental e médio.
Em cada início de ano letivo planejo conteúdos, atividades, leituras, filmes, textos numa sistemática interdisciplinar.
No ensino médio são três aulas semanais de Língua Portuguesa. Esta disciplina desdobra-se em quatro grandes eixos: literatura, leitura, interpretação/ gramática e redação (produção de diferentes tipos de textos).
É preciso muito fôlego, saliva, dinamismo, criatividade, material, recursos em geral para dar conta de tudo. Os trabalhos anuais iniciam, os alunos esperam um professor preparado, uma aula dinâmica e interessante. E o docente acorda, olha-se no espelho e elabora um monólogo:

“Vamos lá, você não pode parecer pálida, cansada, com olheiras, desanimada. Se passou a noite pensando em como consertar o sistema educacional, perdeu tempo. Não esqueça os óculos, Iara! Anime-se, a aposentadoria aos 25 anos é coisa do passado.”

E além dos alunos, tem o sistema (cada secretaria tem um representante da lei, aqui temos A LEI Z…), as leis estão aí para serem cumpridas, é preciso ter comprometimento, assiduidade (mais de três dias de atestado caracteriza a não assiduidade, watch out!). E a semana então transcorre, das 32 aulas ministradas, 08 (tal da hora atividade) são dedicadas à leitura, preparação para a próxima semana, interação com colegas, avaliação de algum filme…
Ao término de cada conteúdo há uma avaliação: produção de texto, duas por bimestre, aproximadamente 800 redações para corrigir coerência, coesão, ortografia, argumentação, exposição de ideias, criticidade etc, etc, etc.
Ainda tem a avaliação da leitura da obra feita em cada bimestre, mais 400 trabalhos, e os exercícios de interpretação e gramática? Ah! Estes serão de múltipla escolha, mas preciso corrigi-los (mais 400).
Esqueci da Literatura, vamos fazer discussão em grupos, na sala de aula… Enfim, ao fim de cada bimestre param em minhas mãos aproximadamente 1.600 trabalhos.
E a recuperação para quem não alcançou a média? A lei é clara. Vamos marcar a recuperação. Explicar novamente o conteúdo, preparar nova avaliação e corrigir (duplamente).
Quando ler tudo isso? O que você faz depois das 22:30? E os fins de semana ?
Vamos lá! Meus alunos precisam de um retorno, afinal o ensino aprendizagem é processual, dinâmico, recíproco.
Durante as correções misturam-se distintos sintomas: (in)satisfação, prazer em ler um texto bem construído, náuseas, visão perturbada, preocupação, ansiedade, cansaço…
Termina o bimestre, faz-se necessário deixar o diário “redondinho”, registrar faltas, atividades, conteúdos, notas parciais, fechar médias, registrar na tarjeta. Ufa! Sobrevivi.
Minha matemática para calcular as horas que necessito para realizar tudo isso não fecha. Socorro! Roubaram (sujeito indeterminado) as horas do relógio (e acredito não ser necessário citar tudo o que foi junto com as horas).

Aguardem cenas do próximo capítulo.

Um abraço a todos os docentes que se identificam com tal rotina.

Professora Iara Mª Schussler Nicolau – Palmitos - SC

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